Desconhecida
Todos os dias, me deparo com uma japonesa creio eu, que dorme, se habita no Terminal Parque Dom Pedro II.
Quem é ela?
Vejo-a determinante dias e até hoje,
Nesta situação o que fazias anteriormente?
Com uma sacola e um banco onde dorme dentro do Terminal.
Qual seu ideal?
O que lhe aconteceu para se encontrar nesta situação?
São Paulo, cinzento de dores, sofrimentos, e solidão.
É assim que à vejo passando horas sentada no chão.
Vejo também, sua família vir visitar,
Sabem que no Terminal ela estará.
Mas, me pergunto sempre que me deparo com você.
- O que lhe aconteceu?
Será que o mundo foi tão cruel, quanto Deus?
Imagino que sejam suas filhas, logo ali.
Indo ao seu encontro, levando alguns trajes para a japonesa vestir,
Por que estas duas mulheres não façam alguma coisa, para esta situação não se repetir?
Conversa vai, conversa vem, sua filhas ou seja lá quem seja elas, se despedem,
Deixando-a sozinha novamente, mas será que elas não notam o que esta japonesa passa, ou não entendem?
Deixaram ali também alguns alimentos de comer.
Levaram água e sucos, e um jornal para ler.
Elas trouxeram na sacola uma marmita de comida.
Ainda me pergunto sempre que me deparo com você.
- O que lhe aconteceu?
Problemas com bebidas?
E não consegue solucionar, e não queres uma saída?
É isso que você quer para sua vida?
Penso também.
Será que foi tão incompetente,
À entregar sua vida e seus dias, ao consumo de entorpecentes?
Nunca á vi, procurando uma ocupação,
Qualquer lugar para morar.
E, se talvez pensavas em voltar para o Japão.
Na madrugada fria e solitária,
Ela caminha de um canto ao outro, impaciente;
Próximo de seu único banco onde ficais, com sua sacola ao lado posso sentir seus pensamentos flutuantes.
Nunca trocamos meras palavras.
Na realidade não sei nada sobre esta japonesa que estou escrevendo, não sei seu nome, não sei nada sobre sua vida.
Não á vejo pedir esmolas, não á vejo pedir comida, muito menos se embriagando com bebidas.
Posso ter sido negligente,
Ao optar o seu consumo de entorpecentes.
Não sei sua história, nem o que se passa em seu dia-a-dia,
Porém te olho com igualdade, no meio de toda esta sociedade.
Me refiro à uma japonesa de um Terminal, pelas marcas, pelo visto bem vívida,
Descrevo,e escrevo sobre uma desconhecida.
Ela não faz ideia que eu esteja escrevendo sobre ela.
Ela pode gostar ou não,
Pois não tiro sua razão.
Simplesmente sou assim, eu olho, descrevo, e enxergo tamanha escuridão.
Me pergunto o porquê de sua família se isolar,
Para que de todos ao seu redor, você se afastar, e não encontrara um lugar para se habituar.
Ainda me pergunto, sempre que me deparo com você,
- O que lhe aconteceu?
O que a vida lhe ofereceu?
E assim, aqui penso eu.
Escrevendo sobre uma japonesa desconhecida,
Sofrida, abatida, triste, esquecida, porém muito vívida.
Ainda me pergunto, sempre que me deparo com você,
- O que lhe aconteceu?
De quem me refiro?
Me refiro á uma desconhecida.